segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Nobel: disseram que, se divulgasse pesquisa, seria um idiota

Adam Riess diz que não acreditou no que havia descoberto. Foto: Carla Ruas/Especial para Terra

Adam Riess diz que não acreditou no que havia descoberto
Foto: Carla Ruas/Especial para Terra


O ganhador do prêmio Nobel de Física de 2011, Adam Riess, ficou tão surpreso quando descobriu que havia uma energia escura no universo, que passou semanas achando que havia cometido um erro de cálculo. Sua pesquisa mostrou que esta energia faz com que o universo esteja acelerando a sua expansão - e não desacelerando, como era imaginado. Ele revelou detalhes da descoberta na sexta-feira na universidade Johns Hopkins, próximo a Washington.

Saiba o que é energia e matéria escura e mais

Assim que terminou sua pesquisa, Riess mandou uma série de e-mails para colegas espalhados por todo o mundo pedindo que eles lhe ajudassem a achar o erro que havia cometido. "Alguns me disseram para ter cuidado ao divulgar esses dados porque eu iria me sentir um idiota em pouco tempo. Outros disseram: Se até Einstein errou porque você não estaria errando também?".

Mas após relutar por varias semanas Riess resolveu arriscar e publicar os resultados. "Achei que seria uma boa ideia para que outros cientistas pudessem verificar e, se fosse o caso, contestar os meus dados", diz. Mas a descoberta, divulgada em 1998, foi recebida com entusiasmo no mundo da ciência e ganhou diversos prêmios ate ser indicada para o prêmio Nobel, em 2011.

A prova de que existe uma energia que repele os corpos celestes no espaço vazio foi considerada revolucionária no estudo da expansão do universo. Este achado pode ajudar a prever o futuro do Sistema Solar e a explicar do que é composto o espaço: "Na receita do universo, a energia escura pode ocupar ate 70% da área, enquanto planetas, estrelas e gás apenas 5% e o restante seria matéria escura, outra substancia que pouco conhecemos", afirma.

Einstein estava certo
O motivo pelo qual Riess ficou tão surpreso com seu resultado foi porque a teoria da energia escura já havia sido levantada por Einstein em 1917 - mas depois foi considerada o maior erro da sua carreira. "Einstein acreditava que o universo era estático por causa da combinação entre a atração natural dos corpos celestes e uma constante cosmológica de repulsão, que seria a energia escura. Mas quando descobriram que o universo não estava parado, sua teoria foi ridicularizada".

Oitenta anos depois, Riess chegou à conclusão de que a constante cosmológica de Einstein estava certa. Seria a única explicação para os resultados que encontrou ao estudar as supernovas. "Eu medi a distância delas através da intensidade do seu brilho e a velocidade pela cor do comprimento de onda e percebi que elas estavam se distanciando cada vez mais rápido com o passar do tempo".

Mas Riess admite que para isso teve uma grande vantagem sobre Einstein: usou telescópios de alta tecnologia que só foram disponibilizados nos últimos 10 anos. Eles permitem a captura de imagens de grandes áreas do espaço com infra-vermelho e alta resolução. "Só existe uma supernova na galáxia a cada 100 anos. Mas eu pude observar milhares de galáxias de uma só vez com grande precisão", explica.

Riess realizou sua descoberta enquanto era pesquisador da Universidade da California-Berkeley, mas agora é professor de física e astronomia na Universidade Johns Hopkins. Ele recebeu o prêmio Nobel em dezembro, na Suécia, junto com um cheque de US$ 1,49 milhão que dividiu com os colegas Brian Schmidt, da Universidade Nacional Australiana, e Saul Perlmutter, da Universidade da Califórnia-Berkeley.

Especial para Terra

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